Novo porto

Depois de tantos anos, é possível começar e finalizar um texto? Um desafio terapêutico: reencontrar aquele que pode colocar tudo para fora dentro de parágrafos, poemas ou breves anotações.

Nos últimos anos a ansiedade tomou conta dessa forma tão livre e tão cheia de si. Como um navio que chega no porto, pega a carga, leva para o mar e nunca chega em outro destino. Sentimentos antigos parados no meio do oceano, esperando a orientação de algum satélite, de alguma bússola que trouxesse alguma rota.

Parece que ao escrever fui ao meio desse oceano, reencontrando esse navio cheio de mim, guiado para um novo porto. Esse novo porto também sou eu, anos depois.

Navegar é para os fortes.

Voltar, colocar todas essas palavras aqui, é como se estivesse finalmente olhando para toda essa carga que veio, mas que faltava coragem de abrir, de desempacotar e reorganizar dentro.

Não sei quanto tempo leva para colocar tudo em ordem. O navio chegou neste novo lugar trazendo tudo o que existe do eu e com o objetivo de fazer as pazes com toda a bagagem emocional que trouxe. Abraçando quem sempre fui, quem achei que estivesse deixando de ser.